[...continuando o tema "apócrifos" (o primeiro foi sobre Gabriel García Márquez), hoje trago-lhes uma crônica atribuída a Mario Quintana... muito bem se sabe, que sua especialidade era poemas: "Não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola traçada pelo próprio impulso (ritmo)."... palavras do próprio Mario Quintana...]
"Promessas Matrimoniais"
Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja,com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:
"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"
Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
Promete se deixar conhecer?
Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declara-os maduros.
Deixando de lado a questão do "estilo", outro fato que definitivamente comprova que o texto não pode ser de Quintana é a data em que foi criado. Começa referindo-se a algo que foi escrito pelo(a) autor(a) em 1998, ou seja: tem de ser posterior a 1998. Mario Quintana, no entanto, morreu em 1994, não poderia, portanto, tê-lo escrito. A crônica, na verdade é de autoria da Martha Medeiros. Ela mesma já fez menção a essas confusões mais de uma vez, em "Clonagem de Textos" e "Crônica Sobre a Desinformação". Uma curiosidade: assim como Mario Quintana, Martha Medeiros também é gaúcha, de Porto Alegre, onde Quintana viveu por quase toda a sua vida!